Durante as últimas semanas muitas pessoas vieram conversar comigo sobre o que é a verdade. Como o tema se repetiu por diversas vezes, pensei que seria legal falar sobre ele por aqui.
Por muito tempo, confesso, acreditei que a verdade era única, uma só e fora dela não havia nada além de mentira. Mas a grande verdade é que essa história se desfez quando entrei para a faculdade de jornalismo. Ali aprendemos a falar meias verdades, a contar um lado da história, até a procurar mais de uma fonte para saber sobre o mesmo assunto, buscando sempre uma verdade que nunca seria alcançada.

Estava aí primeira bola fora da verdade. Só que esse tema ficou esquecido por um bom tempo e recentemente veio à tona. E mais… em tempos de redes sociais a verdade é aquela contada em posts e stories. Vocês bem sabem (e sabem bem) que isso não representa nem um pouquinho do que é um dia a dia real.
Fato é que ao longo de nossa vida passamos por várias experiências que colocam em xeque o conceito de verdade. Seja por nossos pais discretamente pedindo para omitirmos determinada informação e contar "a verdade", seja porque acreditamos na verdade vendida pela mídia e a compramos como verdade pronta, estilo comida congelada. Não precisa nem pensar para fazer, só aquecer por cinco minutos no microondas. Vira verdade preguiçosa, costumeira e irreal. Sem falar nas meias verdades que surgem com a necessidade de convivência social.
Quando discutimos sobre espiritualidade, quanto mais nos aprofundamos nos estudos, percebemos que a nossa verdade é única, pessoal e intransferível, tipo CPF, sabe… com a vantagem de não ir pro SPC ou SERASA - hahaha. São muitas correntes de pensamento e filosofia que tratam do mesmo tema, sob diferentes óticas, de formas distintas, com a sua… VERDADE. E cabe a nós encontrar aquela que mais tem ressonância com o que acreditamos, com as nossas referências; a que nos faz mais sentido.
Sem falar que há o momento certo - relativo à nossa "maturidade" - de se deparar com determinada verdade. Pela diversidade de mentes e características heterogêneas, as filosofias são diferentes e cada um de nós encontra aquilo que dá conta de assimilar; acessa a sua porção de verdade.
Como disse o querido Chico Xavier, que coloco aqui como uma referência de pensador:
"Não seremos libertados pelos "aspectos da verdade" ou pelas "verdades provisórias" de que sejamos detentores no círculo das afirmações apaixonadas a que nos inclinemos.
Muitos, em política, filosofia, ciência e religião, se afeiçoam a certos ângulos da verdade e transformam a própria vida numa trincheira de luta desesperada, a pretexto de defendê-la, quando não passam de prisioneiros do "ponto de vista"."
Fonte Viva. Pelo Espírito Emmanuel. FEB. Capítulo 173.
A verdade na psicanálise
Aprofundando no campo psíquico a coisa fica mais legal ainda. Estudando sobre a forma como as pessoas se constituem e quais são suas referências internas, é fácil perceber que a verdade de um realmente não é a verdade do outro. Para a psicanálise, a verdade é sempre exclusiva do sujeito. Podemos acreditar nas mesmas coisas, ter crescido no mesmo lugar e vivido as mesmas experiências, que as verdades continuarão pessoais. Claro que muita coisa pode ser compartilhada, uma mesma verdade pode ser válida para mais de uma pessoa, mas sempre há o olhar do indivíduo sobre o assunto.
Vamos pensar juntos? Qual é a sua maneira de lavar a louça? Ou caminhar na rua? Como você pedala ou anda de carro? Quando viaja prefere ficar em uma casa ou em hotel? Como é a forma que você se organiza no trabalho? E as relações pessoais?
Note que todas as respostas que pode ter dado a essas perguntas são exclusivamente suas. O grande erro (ou problema) disso tudo é a gente achar que por algo ser tão verdadeiro para nós ele também tem que ser para o outro. E impor esse comportamento ao outro é, como a própria palavra diz, algo autoritário.
Falando assim pode parecer muito simples, mas não é. O autoritarismo está presente em nas pequenas coisas e vale muito a reflexão sobre essa atitude.
É por achar que existem verdades absolutas que muitas pessoas deixam de discutir a legalização do aborto, por exemplo. Ou novas formas governamentais, novas formas educacionais… Deixamos de flexibilizar nossas ações e pensamentos porque acreditamos demasiadamente em determinado ponto, até não conseguirmos relativizar que a nossa verdade não é igual a do outro. E nunca vai ser.
Quantas vezes nós estávamos pra baixo, em um dia ruim e começamos a perceber várias pessoas agindo de forma diferente conosco. Quem é que está enigmático? Você? Pode ser difícil admitir isso, por isso, projetamos no outro um problema nosso, e achamos que as pessoas estão se comportando estranhamente com a gente. Porque essa é a nossa verdade. Por exemplo: fulano se comportava de tal forma, agora está distante. Já refletiu quem realmente está distante? Se é você ou o outro?
Só que essa história da verdade, nos exemplos anteriormente citados, pode parecer até caricata. Ela se esconde nas entrelinhas da nossa vida. Muitas vezes exigimos do outro comportamentos e atitudes que dizem respeito apenas, e repito, apenas a nós. Sabe por quê? Porque são as NOSSAS verdades.
Imbuídos desse sentimento de que a nossa verdade sempre fala mais alto do que a dos outros, podemos nos pregar peças como a descrita acima. Simplesmente não conseguimos ver outro caminho, enxergar para além do que nos é familiar. Obrigar o outro a se submeter àquilo que é apenas seu não é algo legal.
Encerrando esse texto, quero deixar algumas reflexões para gente que quer construir um futuro melhor:
- Em que momentos deixo de ver outras perspectivas por conta da minha verdade? - Minha verdade é egoísta (no sentido ruim da coisa) em alguma esfera? - Como posso flexibilizar a minha verdade para que ela abarque também a verdade do outro? - Como não ser autoritário ao impor a minha verdade?
Aí, quando temos várias respostas prontas e certezas de vida, levamos esses conteúdos para análise e percebemos que nem a nossa verdade era tão verdade assim… e começa a brincadeira.
Depois disso, vou até pegar uma xícara de chá para refletir!
Forte abraço!
Iasmine
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